terça-feira, junho 30, 2009

Acordar, viver



"Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida e eu quedo inerte sem paixão."
Dias difíceis...
Sinto-me sem forças para continuar.
Estou sensível diante das palavras desperdiçadas, dos olhares evasivos, das mãos frias...
" Como repetir, dia seguinte após dia seguinte, a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?"
É incrível como tudo muda em frações de segundos. O que era um sonho, torna-se um pesadelo. O que era amor, vira ódio. Quem era seu porto seguro hoje, pode ser seu maior medo amanhã!
" Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento que lembra a Terra e sua púrpura demente?
E mais aquela ferida que me inflijo a cada hora,
algoz do inocente que não sou?
Ninguém responde, a vida é pétrea.”

sexta-feira, junho 26, 2009

Além da terra, além do céu



Barreiras?
Elas não existem pra quem ama.
Eu viajaria o mundo para encontrar você - mesmo que em pensamento.
Eu deixaria minhas vontades de lado para satisfazer as suas, sempre que percebesse o quão seus desejos são importantes e preciosos - ainda que só para você.
“Além da Terra, além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!”
Dificuldades, obstáculos, nunca deixaram de existir. Porém, eu sempre busquei soluções.
Não me escondi na primeira discussão, não me rendi aos encantamentos do mundo, não julguei nem crucifiquei...
Hoje, eu sei que eu amei.
Eu vivi este amor. Mais um... Vivi vários amores e espero, apesar das desilusões, continuar assim... me entregando.
Sabe por quê?
Na verdade, o amor não faz sofrer.
A gente se machuca quando insiste em distorcer o real. Em desviar o olhar para o que está, de fato, diante de nossos olhos.
Eu fiz o melhor que pudia.
Contudo, se você descobriu seu sentimento apenas agora...
Não posso te oferecer o que eu não mais tenho, não sinto!
Se apenas agora você vê as cores mais vivas, acha o céu mais bonito, ouve o canto dos pássaros e acha o mundo um paraíso...
Alegro-me ao saber que você é um dos poucos seres humanos que já amou... Todavia, meus olhos brilham, minha voz se cala e meus lábios se perdem, neste momento, por outro alguém.
“ Vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente, acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver.”
Um amor, dois amores, três amores... Independente de quantos vierem e das emoções que eles trouxerem: Eu quero mesmo é AMAR!

sábado, junho 20, 2009

Caso do vestido


Parou no tempo. Selecionou as lembranças que lhe convinham e as demais descartou.
Guardou, na mesma caixinha que acondicionara o vestido dos sonhos com as rendas de um véu de amarguras, as recordações de seu paraíso.
Ela esperava, todos os dias, a volta de seu amado. Aquele homem que a fez feliz e que, junto com suas filhas, era a razão de sua existência.
Pacientemente aguardava o seu regresso. E em um desses dias, diante dos questionamentos de suas meninas, resolveu abrir aquela caixinha e revelar o que, com tanto zelo, ela mantinha ali.
Seus olhos transbordavam um mar de emoções. Reviver tudo aquilo era trazer ao presente alegrias e dores do passado.
Ela deu início ao seu relato.
Contara que havia vivido dias invejáveis, de intensa e completa felicidade e como isso é incomum, logo despertou a ânsia dos insatisfeitos.
Seu marido conhecera uma moça, uma linda moça, a qual roubou-lhe os dias, as noites, o ar, o sossego...
“ ...se afastou de toda vida,

se fechou, se devorou...”
… Fugiu com ela. Deixou a família e foi viver seu devaneio.
Depois de saciado, aquela fantasia foi, gradativamente, perdendo as formas, as cores e a beleza.
“...quede os olhos cintilantes?
Quede graça de sorriso,
quede colo de camélia?
Quede aquela cinturinha
delgada como jeitosa?
Quede pezinhos calçados
com sandálias de cetim?”
Então, a moça, que levara para si a veste dos dias daquela mulher, bateu à sua porta e entregou o que era, de fato, da senhora abandonada pelo marido...
A mulher pegou o vestido e colocou-o na mesma caixinha de onde viera, esquecendo-o ali por datas.
Daí, ao narrar a história a suas pequenas, ela arrancou da caixinha o pouco que restara daquele emaranhado de retalhos, tapou-a e queimou aqueles trapos...
Olhou para a janela e viu seu marido caminhando rumo a porta. Como quimera, ela sorriu e foi ao encontro dele.
“... comeu, limpou o suor,
era sempre o mesmo homem,
comia meio de lado
e nem estava mais velho.
O barulho da comida
na boca, me acalentava,
me dava uma grande paz,
um sentimento esquisito
de que tudo foi um sonho,
vestido não há... nem nada.”

sexta-feira, junho 19, 2009

José



“E agora, José?
A festa acabou,

a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou.
E agora, José?
E agora, Joaquim?
E agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
E agora, José?”
Hoje, não tem sonhos nem idealizações.
Momento de revolta e, como sugeriu minha amiga e irmã, Marina Guido, tempo de indignação!
Como pode, diante de tanta evolução, de todo o incentivo que há a alfabetização, perante os direitos dispostos na Constituição Brasileira que asseguram a escolaridade a todos, a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal pronunciarem-se CONTRA a OBRIGATORIEDADE DO DIPLOMA DE JORNALISTA?
Nossa classe está sendo desvalorizada!
Por acaso o JORNALISMO é menos importante que as demais profissões?
Isso é LIBERDADE DE IMPRENSA?
Francamente, isso é um desrespeito com o POVO BRASILEIRO.
Não desmereço aqueles que exercem a profissão sem diploma e têm talento. Contudo, a escola de Frankfurt, os critérios de noticiabilidade, a técnica da pirâmide invertida, do nariz de cera, o feedback e McLuhan, são dispensáveis?
Vejo, com um olhar ofuscado, o cenário indigno que nós, disseminadores, mediadores de informações e, mais ainda, de conhecimentos, encontramo-nos.
Reitero este meu sentimento de cólera frisando que Marco Aurélio de Mello mostrou-se como o único ministro PENSANTE do Supremo Tribunal Federal diante da nulidade dos demais elementos que participaram da votação.
“ Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!”

terça-feira, junho 16, 2009

O medo



Deixar para trás algo que eu não mais queria, em momento algum, me apavorou.
O que eu não esperava era, em tão pouco tempo, conhecer, como que em feitiço, alguém que me envolvesse a ponto de cercear todas as minhas saídas...
Não consigo compreender o que está acontecendo. Sinto-me seduzida. Ele encantou meus olhos e preencheu minha alma.
Diferente de tudo o que já vi, já vivi e já quis. Considero-o inatingível e me vejo sensível diante de suas atitudes conscientes e rudes.
Tento premeditar minhas reações para não sofrer os efeitos de suas palavras doces.
Tempo perdido!
Ele rouba minha superioridade, a convicção que sempre tive com qualquer pessoa.
Fico atormentada, completamente assustada. Tento recuar, no entanto, meu corpo me compromete, me entrega, me deixa vulnerável ali, perante sua onipotência.
Promessas? Ele nunca as fez.
Nunca jogou com meus sentimentos. É sempre muito exato. Nunca se excede e, quando presente, também não deixa nada a desejar.
“ Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.”
Quero ele ao meu lado.

É um querer doentio, pois ele me consome, me entorpece, me descobre, me revela, me ensina, me expõe...
Sinto-me nua diante de seus olhos...
Um olhar fixo, indecoroso, concentrado que sabe o quer e como conseguir.
Vejo-o distante... longe do alcance de meus dedos...
... mas a vontade de tê-lo... persiste!

segunda-feira, junho 15, 2009

Confissão



A noite se aproximava e lá estavam, caminhando distraídos pelas ruas da cidade, sem saber aonde queriam chegar!
Ele, mudo, pensativo, parecia prever que naquela noite algo iria mudar.
Ela, sufocada, tinha muito o que falar, mas tinha medo de se arrepender.
Por horas eles andaram assim, passivos, sem reações, sem relatos, sem olhares, anestesiados.
Suas mãos, entrelaçadas, não sentiam mais o calor uma da outra.
Seus corpos, que percorriam a mesma estrada, lado a lado, estavam frios, solitários, como se cada um tivesse escolhido uma trilha diferente.
Não sei, ao certo, em que mundo ele se perdia...
Sei que ela gritava, sua inquietação chegava a transbordar. Tinha tanto o que dizer que chegava a não saber por onde começar. Tinha receio da emoção tomar, por completo, sua voz e não conseguir omitir certos detalhes...
Foi assim. As palavras saíram, uma atropelando a outra, em um ritmo acelerado, desordenado...
Ele, em desespero, e ela, atônita.
Então, ele reagiu. Disse que ela estava transtornada e que não devia prosseguir com seu discurso. Contudo, seu apelo de nada adiantou. Ela já não ouvia mais som algum, nem o da própria voz... E quando sentiu sua audição fazer-se presente novamente, lhe doeu o ruído das palavras ásperas que sua própria boca pronunciou: “EU NUNCA TE AMEI!”
“ Dei sem dar e beijei sem beijo.
(Cego é talvez quem esconde os olhos
embaixo do catre.) E na meia-luz
tesouros fanam-se, os mais excelentes.”

sábado, junho 13, 2009

O tempo passa? Não passa



“ O tempo nos aproxima
cada vez mais, nos reduz
a um só verso e uma rima
de mãos e olhos, na luz.”
Recordo-me, minuciosamente, de cada instante que passamos juntos.
Parece que o tempo torna-se flexível diante das lembranças.
Seu olhar transbordava felicidade ao poder voltar à infância com minhas manias de menina. Seu sorriso sincero era o melhor remédio para minhas inquietações. Seu abraço me protegia, era sinônimo de segurança, meu refúgio. Suas mãos, que acariciavam meu rosto, acalentavam minha alma...
Por diversas vezes sua voz foi o bastante para que eu pudesse dormir em paz. Suas histórias, engraçadas, eram suficientes para que eu pudesse me esquecer de qualquer sofrimento. Seu jeitinho, descontraído, cheio de gírias, me encantava como se o mundo fosse só nosso...
Éramos assim...
Nosso amor?
Foi findo...
“ Não há tempo consumido
nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido
de amor e tempo de amar.”
Hoje nossos sentimentos amadureceram. Nossos caminhos seguiram sentidos opostos. Somos pessoas diferentes. Aquele amor, que existia lá atrás, não pertence mais à quem nos tornamos...
O amor permanece...
… apenas nas páginas viradas!

quarta-feira, junho 10, 2009

O arco



“Que quer o anjo? Chamá-la
O que quer a alma? Perder-se
Perder-se em rudes guianas
para jamais encontrar-se.”
Muitas vezes tenho vontade de agir contra meus conceitos, contra essas regras que a moral insiste em traçar.
Vontade de ser diferente daquele estereótipo que delimitaram para mim. Queria poder conhecer o que há além dos limites...
“Que quer a voz? Encantá-lo.
Que quer o ouvido? Embeber-se
de gritos blasfematórios
até que dar aturdido.”
Não sei explicar. É uma sensação de liberdade, um querer andar com as próprias pernas, vontade de poder errar por mim mesma e, pela primeira vez, fazer o que parece não ser correto sem sentir medo das consequências. Afinal, só assim faria algo que há muito me atormentava e ao mesmo tempo me instigava.
“Que quer a nuvem? Raptá-lo,
Que quer o corpo? Solver-se,
delir memória de vida
e quanto seja memória.”
Parece que as coisas do mundo conspiram para essa mudança. Sinto-me encantada pelo outro lado, pelo desconhecido. Um desejo imenso de me entregar a esta inundação de novidades que parecem ser a essência da vida!
“Que quer a paixão? Detê-lo.
Que que o peito? Fechar-se
contra os poderes do mundo
para na treva fundir-se.”
Será que ainda não descobri quem sou?
Por que me sinto tão atraída pelo que não é convencional?
“Que quer a canção? Erguer-se
em arco sobre os abismos.
Que quer o homem? Salvar-se,
ao permeio de uma canção.”
Quero me arriscar! Conhecer o que não pertence a meu mundo e criar minhas próprias concepções.
Preciso aprender a me defender sozinha, a fazer minhas escolhas sem interferências. Necessito ouvir aquela frase: “Bem vinda ao mundo real!”

terça-feira, junho 09, 2009

Amor e seu tempo



“Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida. Amor começa tarde.”
Talvez Drummond esteja certo.
Reconhecer, identificar, descobrir o amor é tarefa difícil!
As vezes pensamos estar apaixonados por alguém e com o passar do tempo descobrimos que aquele encantamento já não existe mais.
Vez ou outra, confundimos os sentimentos. A paixão é passageira, a beleza física não supera as diferenças, o envolvimento resulta em uma grande amizade... mas e o amor? O que é?
Acumulamos nossas vivências, o que compartilhamos com pessoas próximas e a cada relacionamento tentamos agir de acordo com o que concluímos desta coletânea.
Deixamos, com isso, de nos entregar, de permitir que o amor nasça, de construir um sentimento sólido com outra pessoa. As decepções fazem com que sejamos calculistas, com que não consigamos nos dedicar do jeito que gostaríamos por medo de sofrer.
O amor não se resume em bons momentos. A magia deste sentimento está na maneira como lidamos com os obstáculos. Na forma como, juntos, superamos as dificuldades. No respeito à essência, ao jeitinho de ser da pessoa amada.
Mudar? Sim, defeitos devem ser lapidados e transformados em qualidades... Porém, a subjetividade de cada pessoa é algo que jamais podemos alterar.

Com o tempo, aprendemos que amar é saber a hora de se curvar, de reconhecer nossos erros, de abrir mão... enfim, de perdir perdão e aceitar que nem sempre as coisas acontecem do jeito que esperávamos, pois...
Quando há amor as disparidades tornam-se complementos!

terça-feira, junho 02, 2009

Toada do amor




Seguimos assim, nos desentendendo continuamente.
Tudo incomoda, machuca, é sinal de desconfiança, causa medo.
Será que gostar é o bastante?
Será que vale a pena insistir em uma relação que se desgasta a cada dia?
“E o amor sempre nessa toada!
Briga perdoa perdoa briga.”
Penso, reflito, fico introspectiva e quando decido que não quero mais, ele vem... mexe profundamente comigo, com o que sinto...
Sabe dizer tudo aquilo que preciso ouvir naquele momento. Revela o que não havia dito antes por conta de sua insegurança e de seu ego.
A impressão que tenho é que sem ele não é possível prosseguir.
A vontade mais impulsiva é esquecer tudo e ir ao encontro dele, novamente... Mas e as mágoas? As duras palavras? As diversas vezes que, desesperada, quis sumir e nunca mais ouvir suas explicações, suas promessas? O que faço com tudo isso?
É tudo tão extremo!
Seria tão fácil se fóssemos mais compreensivos, menos orgulhosos.
O ideal seria se aqueles segundos mágicos que passamos juntos fossem prolongados, transformados em meses, anos, décadas... Só que não é assim. Tudo mudou e acho que é hora de aceitar que não é mais como antes. O mundo, as pessoas, a distância... nós mesmos nos afastamos sem perceber!
Talvez seja melhor assim!
Acredito que ainda seja possível salvar o que restou de bom e guardar para sempre, antes que esses vestígios também se percam entremeio tanta desilusão.

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