terça-feira, julho 26, 2011

Elegia 1938



Sempre que chegava a cena era a mesma: terço em punho, ajoelhada, olhar fixo, atenta ao correr dos dedos entre Ave Maria, Pai Nosso e Mistérios contemplados.
O que intrigava era que ela sempre estava ali, no mesmo banco com o semblante sereno de sempre.
Encobrindo a pele clara, a leve maquiagem que não deixava de esconder sua palidez.
Nenhuma ruga de expressão, nenhum movimento dos lábios... ela piscava suavemente como se seu corpo estivesse ali mas só. A alma transpassara aquela dimensão.
Uma graça?
Não, estava muito tranquila.
Agradecia?
Seus gestos não condiziam com as características de quem alcança algo.
Dor?
Não, o olhar nem era triste!
Angústia?
Era serena.

Fé?!
Fé! É isso. Simplesmente isso.
Alguém que estava ali por gosto, não por obrigação. Por sede, não por necessidade.
Talvez um anjo... talvez um ser humano que encontrou em si a coragem de finalizar a Salve Rainha, fazer o Sinal da Cruz e sair... ou voar – parecia leve!
Alguém que não pedia, não agradecia, nem reclamava e tão pouco cobrava. Apenas conversava com Deus e partia de Sua Casa com a convicção de que o Templo era apenas simbólico e que Ele estaria com ela aonde fosse...
“Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.”

sexta-feira, julho 22, 2011

O elefante




“Eis o meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê em bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.”
Certo mesmo é que muitas vezes desconhecemos quem realmente somos. Nos subjugamos fracos, incapazes, pouco persistentes e quando deparamos com situações extremas descobrimos que apesar de todas as nossas limitações sempre há fôlego para recomeçar.
Somos mais fortes do que imaginamos. Talvez a vida nos torne assim!
Aprendi a encarar de frente o que o destino me reserva. O nome disso? Coragem... e o mais surpreendente: uma maturidade que chega sem avisar.
São muitos os problemas mas raramente ponderamos as inúmeras graças, alegrias, dádivas e bênçãos.
É como o conhecido axioma 'há males que vêm para o bem'.
A cada instante aprendo a confiar nos desígnos de Deus. Aceitar tudo, seja o que for.
“Vai o meu elefante
pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.”
Seja como for, o mundo não pára. E meus problemas, são realmente MEUS!
Vez ou outra fraquejo. Sou humana!
Mas ao abrir os olhos pela manhã agradeço a Deus pela minha família e pelo dom da vida.
Daí, sinto a energia renovada. Estou pronta para começar de novo...
“E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo o seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado.
Amanhã recomeço.”

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