terça-feira, julho 26, 2011

Elegia 1938



Sempre que chegava a cena era a mesma: terço em punho, ajoelhada, olhar fixo, atenta ao correr dos dedos entre Ave Maria, Pai Nosso e Mistérios contemplados.
O que intrigava era que ela sempre estava ali, no mesmo banco com o semblante sereno de sempre.
Encobrindo a pele clara, a leve maquiagem que não deixava de esconder sua palidez.
Nenhuma ruga de expressão, nenhum movimento dos lábios... ela piscava suavemente como se seu corpo estivesse ali mas só. A alma transpassara aquela dimensão.
Uma graça?
Não, estava muito tranquila.
Agradecia?
Seus gestos não condiziam com as características de quem alcança algo.
Dor?
Não, o olhar nem era triste!
Angústia?
Era serena.

Fé?!
Fé! É isso. Simplesmente isso.
Alguém que estava ali por gosto, não por obrigação. Por sede, não por necessidade.
Talvez um anjo... talvez um ser humano que encontrou em si a coragem de finalizar a Salve Rainha, fazer o Sinal da Cruz e sair... ou voar – parecia leve!
Alguém que não pedia, não agradecia, nem reclamava e tão pouco cobrava. Apenas conversava com Deus e partia de Sua Casa com a convicção de que o Templo era apenas simbólico e que Ele estaria com ela aonde fosse...
“Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.”

2 comentários:

Bárbara O. dos Santos. disse...

Mas a Fé é assim mesmo, na sua mais pura forma ela simplesmente vem e não pede, não espera, não precisa de razões mas as exnerga em diversas situações.Não precisa de explicações, de com provações é e ponto.Com uma força incontestável, ela nos sustenta e conforta sem nos darmos conta.

Quanto tempo eu não passava por aqui, gostei muito desse texto, mesmo!Adoro escrever sobre a fé e tu fez tão bem feito, profundo e simples.Amei!!^^

Beijo!
=**

Felipe Braga disse...

Drummond sempre te inspirando, né, Carol? Dois orgulhos de Minas Gerais ganhando o mundo.

Amo você, Carol. Saudade.

Beijos.

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