segunda-feira, setembro 05, 2011

A verdade dividida



"A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só conseguia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam."
E foi assim que a notícia chegou. Devagar e incompleta, o que não a fez menos dolorosa.
Jamais imaginei que este dia se concretizasse. (Quisera eu que jamais acontecesse).
...
Quando criança pedia ao Papai do Céu para nunca levar minha vovó.
Passados anos, o pedido se alterou, queria partir antes dela.
Depois, entendi que estava sendo egoísta: para todo começo um fim.
...
Entendi, nunca aceitei!
...
Ainda nas escadas me disseram:
"Aneurisma Cerebral!"
Mal sabia o que era mas algo me dizia que precisa vê-la.
No caminho, entre lágrimas -a esperança de um engano, uma recuperação, um susto apenas - constituíam MINHA MEIA VERDADE!
Logo entrou a outra metade...
...
Ela não estava mais ali... e por mais que eu chorasse, implorasse, acreditasse em milagres...
Ela não podia voltar!
"Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia os seus fogos.
Era dividida em duas metades
diferentes uma da outra."
Havia duas opções: vê-la sofrer só para não perdê-la ou aliviar sua dor e aprender a conviver com sua ausência...
"Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era perfeitamente bela.
E era preciso optar. Cada um optou
conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia."
Não optei... estou até hoje tentando conviver com sua ausência pois neste caso a escolha não era minha!
Eis o designo de Deus.

terça-feira, julho 26, 2011

Elegia 1938



Sempre que chegava a cena era a mesma: terço em punho, ajoelhada, olhar fixo, atenta ao correr dos dedos entre Ave Maria, Pai Nosso e Mistérios contemplados.
O que intrigava era que ela sempre estava ali, no mesmo banco com o semblante sereno de sempre.
Encobrindo a pele clara, a leve maquiagem que não deixava de esconder sua palidez.
Nenhuma ruga de expressão, nenhum movimento dos lábios... ela piscava suavemente como se seu corpo estivesse ali mas só. A alma transpassara aquela dimensão.
Uma graça?
Não, estava muito tranquila.
Agradecia?
Seus gestos não condiziam com as características de quem alcança algo.
Dor?
Não, o olhar nem era triste!
Angústia?
Era serena.

Fé?!
Fé! É isso. Simplesmente isso.
Alguém que estava ali por gosto, não por obrigação. Por sede, não por necessidade.
Talvez um anjo... talvez um ser humano que encontrou em si a coragem de finalizar a Salve Rainha, fazer o Sinal da Cruz e sair... ou voar – parecia leve!
Alguém que não pedia, não agradecia, nem reclamava e tão pouco cobrava. Apenas conversava com Deus e partia de Sua Casa com a convicção de que o Templo era apenas simbólico e que Ele estaria com ela aonde fosse...
“Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.”

sexta-feira, julho 22, 2011

O elefante




“Eis o meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê em bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.”
Certo mesmo é que muitas vezes desconhecemos quem realmente somos. Nos subjugamos fracos, incapazes, pouco persistentes e quando deparamos com situações extremas descobrimos que apesar de todas as nossas limitações sempre há fôlego para recomeçar.
Somos mais fortes do que imaginamos. Talvez a vida nos torne assim!
Aprendi a encarar de frente o que o destino me reserva. O nome disso? Coragem... e o mais surpreendente: uma maturidade que chega sem avisar.
São muitos os problemas mas raramente ponderamos as inúmeras graças, alegrias, dádivas e bênçãos.
É como o conhecido axioma 'há males que vêm para o bem'.
A cada instante aprendo a confiar nos desígnos de Deus. Aceitar tudo, seja o que for.
“Vai o meu elefante
pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.”
Seja como for, o mundo não pára. E meus problemas, são realmente MEUS!
Vez ou outra fraquejo. Sou humana!
Mas ao abrir os olhos pela manhã agradeço a Deus pela minha família e pelo dom da vida.
Daí, sinto a energia renovada. Estou pronta para começar de novo...
“E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo o seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado.
Amanhã recomeço.”

sexta-feira, março 11, 2011

Igual-desigual




“Eu desconfiava:
[...]
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em versos livres são enfadonhamente iguais.”
Idênticos... analógicos...
Pois bem, 'reprisando' a citação "depois da tempestade vem a bonança", entende-se: toda vitória é consequência de enfrentamentos, lutas e dificuldades.
E é este meu ponto de partida...
Mesmo com toda esta verossimilhança, os vieses podem, e devem, ser destacados.
Tem gente que cogita desistir mesmo na reta final, pois sempre há um 'probleminha' instantes antes da grande conquista.
Como toda torcida, tem gente dos dois lados.
Existem aqueles que são os verdadeiros responsáveis pelo sonho que se tornou realidade. Afinal, são eles que dão novo fôlego, impulsionam o grande salto seguido do vôo alçado!
Em contrapartida, o 'lado de lá' se subdivide.
Uns só observam. Outros assumem posturas mais ousadas... mas no fundo este grupo espera ansioso assistir as frustrações - na ânsia de que elas realmente sejam fatais!
“Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.”
Mas apesar da emoção dos pais, do diploma na mão, da aula da saudade, do fim que marca o recomeço de uma nova etapa serem clichês... o 'gostinho' que cada um sente é I-N-D-U-B-I-T-A-V-E-L-M-E-N-T-E diferente.
E é por isso que hoje venho registrar minhas CONGRATULAÇÕES ao EXCELENTÍSSIMO DR ODIR MENDES!
A você, irmãozinho lindo, todas as honras e todos os votos de sucesso e mais sucesso.
PARABÉNS!
...
Ah! E para o 'lado de lá'...
Drummond esclarece:
“... o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou
coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar.”
Então, para quem banaliza este momento que é SÓ SEU, só lamento...
Fazer o quê?! Nem todo mundo é contemplado com o dom do RECONHECIMENTO!!!

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

A grande dor das cousas que passaram



“A grande dor das cousas que passaram
transmutou-se em finíssimo prazer
quando, entre fotos mil que se esgarçavam,
tive a fortuna e graça de te ver.”
Como disseram sabiamente: “tem coisas nesta vida que a gente nunca esquece”!
Coisas e pessoas, eu diria.
O tempo passa, os seres migram, o meio se altera, tendências se transpassam e no fundo... pouco se altera.
São mudanças que levam à 'mesmice de cada dia'.
Monotonia que torna cômoda e intrínseca a dor da perda.
“Ó bendito passado que era atroz,
e gozoso hoje terno se apresenta
e faz vibrar de novo minha voz
para exaltar o redivivo amor
que de memória-imagem se alimenta
e em doçura converte o próprio horror!”
A primeira vez de qualquer experiência é sempre marcante! Afinal, se é esta a impressão 'que fica', o medo de reviver algo pode ter justificativa (Física Quântica?)
Na verdade, hoje precisava extravasar...
O início cômico é apenas uma forma de camuflar o temor do que está por vir.
Exatamente. Depois do 1º NATAL, da 1ª PASSAGEM DE ANO sem a presença da pessoa mais importante da minha vida, o receio do 1º ANIVERSÁRIO DE MINHA AVÓ, sozinha, mexe profundamente comigo.
Quando ela se foi, me propus a não falar desta perda em meu blog - enquanto a ferida estivesse latente...
Meses se passaram e vi que o tempo ganha proporções distintas de acordo com o tamanho do sentimento.
A dor... nunca vai passar.
A ausência estará sempre ali, em cada recordação, história contada, nos aprendizados e principalmente na lição de vida transmitida.
Não serei hipócrita a ponto de dizer que "eu compreendo". Alguns acontecimentos, realmente, estão aquém de minha aceitação.
23 de março de 2011: dia frio com céu encoberto de nuvens.
Não é uma previsão (nem em seu sentido literal)... mas para mim, não há como ser diferente.
Talvez a noite possa amenizar as emoções...
Quem sabe uma nova estrela?!

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